quarta-feira, 22 de abril de 2009

A luz e a fúria

Não existe idade para o sonho.
O T.U. faz 50 anos: a festa é de todo o teatro mineiro.
Sob a luz do palco, a inquietação estética, a poesia e a fúria sagrada de representar continuam a traçar o caminho do ator, iniciado em 1952. Nossa escola segue investindo com rigor na formação técnica e ética do ator, sem concessões facilitadoras, buscando sempre o que há de mais profundo e criativo, sem perder a ternura e o rumo, é claro.
Para o vertical ofício de representar, nossa matéria prima é o homem com sua alma intangível, o homem que quer se fazer ator. Dotá-lo de técnicas que ampliem sua expresividade, afinar o corpo e a voz, tornar sua inteligência e a imaginação abrangentes e prepará-lo conscientemente para o palco e para intervir no seu tempo são as nossas metas.
A sede renovadora de conhecimento nos afastou do mofo do comodismo e nos estimulou a reciclagens e trocas concretas de experiências com o que há de mais importante em pesquisas da área teatral.
Na verdade, estamos apenas iniciando o próximo cinquentenário, e o desafio para nós que continuamos é o mesmo dos que iniciaram; a garra e a ousadia são inerentes ao ofício teatral. Hoje, nossos ex alunos, profissionais espalhados pelos palcos de minas e do Brasil, são a nossa marca e nossa credibilidade, é para eles e por eles que o TU existe, caminha e prossegue, investiga e continua ousando. Somos gratos a quem traçou o caminho inicial: Jota D'Ângelo, Carlos Kroeber, Haydée Bittencourt, Otávio Cardoso, provas vivas de fé no teatro e no artista.
Cinquenta anos não pesam, apenas apontam o resultado da união entre a persistência e o sonho, entre a utopia e a garra, entre o fruto e a colheita. Quem faz teatro não envelhece, adapta-se à medida do sonho e da história.
Quando digo sonho, falo da construção de um mundo melhor, mais justo, mais sensível, mais culto, crítico e reflexivo. Quando digo sonho, refiro-me ao árduo trabalho da construção do ator, da disciplina férrea, da pesquisa, da entrega, para que o ofício de representar se torne pleno e contemple o homem e a história num todo poético e transcendente.
A casa antiga e a colhedora será trocada por outro espaço no Campus da UFMG. O TU inicia seu novo rumo. Acreditamos que os deuses do teatro apontaram um rumo certo e renovador, e que o respeito histórico, conquistado por sua tragetória brilhante e instigante, seja mantido como um estímulo para quem faz do teatro um campo de batalha, e da estética, uma estrada de diversão e saber.

É POR ESSA ESTRADA QUE CAMINHAMOS TODOS NÓS: Tchecov, Etienne, Shakespeare, Paula Lima, Pirandello, Ataulfo, Jorge Andrade, Artaud, Grotowiski, Barba, Vidigal, Genet, Ionesco, Kattah, Dias Gomes, Molière, Joaquim Ribeiro, Lorca, Oswald, Suassuna e Nelson Rodrigues. No fim desse caminho, haverá sempre uma escada que dará numa cortina azul; é além dessa cortina que fica o mar de luz que nos alimenta.
Texto de Fernando Limoeiro nos 50 anos do T.U.
Atual diretor do Teatro Universitário da UFMG e Professor de Interpretação e improvisação.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sobre curso técnico de formação de ator

O teatro universitário oferece um curso profissionalizante de formação de atores com duração de três anos e possibilita a habilitação técnica em nível de 2º grau. Seu currículo, em constante evolução, procura atualizar-se de acordo com as exigências e pesquisas do universo teatral. Sua grade curricular é composta pelas seguintes matérias: Improvisação e interpretação, Consciência corporal, Técnica circense, Expressão vocal, História do teatro e Literatura Dramática; com apresentações de exercícios cênicos, abertos ao público.
Anualmente, a escola realiza espetáculos experimentais, com a colaboração de profissionais convidados e a participação dos alunos, a título de estágio curricular. Suas montagens fazem temporada em Belo Horizonte, no interior do estado Minas Gerais e em outras capitais, participando de festivais nacionais e internacionais de teatro. Além da formação profissional de seus alunos, a escola objetiva desenvolver a pesquisa e a extensão nas diversas áreas das artes cênicas. Assim, conta com a coordenadoria de extensão, pesquisa e produção de espetáculos(CENEX/TU), responsável pela produção de projetos com parceria com unidades da UFMG e outras instituições. Realiza ainda cursos de iniciação e aprofundamento sobre todas as vertentes teatrais. Promove regularmente intercâmbio entre seus professores, a comunidade e os profissionais de destaque no cenário da dramaturgia brasileira e de outros países, como Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, Estados Unidos, México, Argentina. O T.U. conta ainda com o setor de programação cultural, que realiza seminários, workshops, saraus culturais e debates, além de colaborar com outras unidades da universidade com projetos de extensão, pesquisas e eventos.
Possui a biblioteca "Haydée Bittencourt", especializada em teatro, a mais importante de Minas Gerais, com uma coleção de 45 periódicos nacionais e internacionais e mais de 5.000 títulos graças às importantes doações feitas recentemente pelas famílias dos professores Francisco Pontes de Paula Lima e João Etienne Filho.

Teatro Universitário - 57 anos de História

No contexto das Artes Cênicas a UFMG destaca-se, ao lado de outras instituições, como uma das pioneiras na implantação de Teatros Universitários no Brasil, na década de 50, motivada por política do governo federal implementada pelo então ministro Pascoal Carlos Magno.
O Teatro Universitário inaugura suas atividades em 1952 sob a direção do professor italiano Vicenzo Spinelli, embora não se configurando como curso regular, já tinha como objetivos tanto a formação teatral de seus integrantes como a realização de apresentações públicas de espetáculos.
A partir de então o Teatro Universitário, por meio de seu papel ímpar nas atividades de ensino e extensão, vinculado à formação de atores e à produção artística, modifica profundamente o cenário do teatro belorizontino e mineiro, tornando seu principal centro promotor das artes cênicas, nas décadas posteriores.
Em setembro de 1957 foi criado o Curso Regular de Interpretação, em seu período inicial de funcionamento o Teatro Universitário foi dirigido sucessivamente pelo francês Jean Bercy, por Carlos Kroeber e o italiano Giustino Marzano.
O trabalho de Marzano a frente do T.U. no final da década de 50 imprimiu padrão ainda mais elevado às atividades do núcleo, tendo como resultado a montagem de "Crime na Catedral" (1958), espetáculo que marcou a história teatral de Belo Horizonte, alçando a produção universitária mineira ao nível das montagens profissionais do Rio de Janeiro e São Paulo. No mesmo ano, convidado pelo ministro Pascoal Carlos Magno, o T.U. abre o Festival Brasileiro do Estudante em Recife destacando-se no contexto dos grupos teatrais do país.
Em 1961 Haydée Bittencourt, indicada pelo crítico Sabato Magaldi, assumiu a direção do Teatro Universitário, na qual permaneceu por 24 anos (de 1961 a 1985), trazendo consigo uma experiência acumulada nas melhores escolas de teatro européias. Sua atuação frente ao T.U. foi definitiva para moldar os rumos da criação cênica em Belo Horizonte e em todo o estado. Haydée cercou-se de grandes profissionais para compor o corpo docente da escola, dentre eles alguns que marcaram a história do teatro brasileiro: Klauss Viana, Francisco Pontes de Paula Lima, João Etienne Filho, Ítalo Mudado, Carlos Leite, José Antônio de Souza, Joaquim Ribeiro.
Em 1963 o T.U. foi premiado como melhor conjunto teatral no I Festival Mineiro de Teatro e a medalha de Santos Dumont - condecoração do Governo do Estado de Minas Gerais.
A partir de 1986 o Teatro Universitário foi dirigido respectivamente por Otávio Cardoso, João Etienne Filho, Wenceslau Coimbra Filho, Fernando Linares, Fernando A. de Melo, Maria Beatriz Mendonça, Esmeralda de Carvalho e Castro e atualmente Fernando a. de Melo.