Não existe idade para o sonho.
O T.U. faz 50 anos: a festa é de todo o teatro mineiro.
Sob a luz do palco, a inquietação estética, a poesia e a fúria sagrada de representar continuam a traçar o caminho do ator, iniciado em 1952. Nossa escola segue investindo com rigor na formação técnica e ética do ator, sem concessões facilitadoras, buscando sempre o que há de mais profundo e criativo, sem perder a ternura e o rumo, é claro.
Para o vertical ofício de representar, nossa matéria prima é o homem com sua alma intangível, o homem que quer se fazer ator. Dotá-lo de técnicas que ampliem sua expresividade, afinar o corpo e a voz, tornar sua inteligência e a imaginação abrangentes e prepará-lo conscientemente para o palco e para intervir no seu tempo são as nossas metas.
A sede renovadora de conhecimento nos afastou do mofo do comodismo e nos estimulou a reciclagens e trocas concretas de experiências com o que há de mais importante em pesquisas da área teatral.
Na verdade, estamos apenas iniciando o próximo cinquentenário, e o desafio para nós que continuamos é o mesmo dos que iniciaram; a garra e a ousadia são inerentes ao ofício teatral. Hoje, nossos ex alunos, profissionais espalhados pelos palcos de minas e do Brasil, são a nossa marca e nossa credibilidade, é para eles e por eles que o TU existe, caminha e prossegue, investiga e continua ousando. Somos gratos a quem traçou o caminho inicial: Jota D'Ângelo, Carlos Kroeber, Haydée Bittencourt, Otávio Cardoso, provas vivas de fé no teatro e no artista.
Cinquenta anos não pesam, apenas apontam o resultado da união entre a persistência e o sonho, entre a utopia e a garra, entre o fruto e a colheita. Quem faz teatro não envelhece, adapta-se à medida do sonho e da história.
Quando digo sonho, falo da construção de um mundo melhor, mais justo, mais sensível, mais culto, crítico e reflexivo. Quando digo sonho, refiro-me ao árduo trabalho da construção do ator, da disciplina férrea, da pesquisa, da entrega, para que o ofício de representar se torne pleno e contemple o homem e a história num todo poético e transcendente.
A casa antiga e a colhedora será trocada por outro espaço no Campus da UFMG. O TU inicia seu novo rumo. Acreditamos que os deuses do teatro apontaram um rumo certo e renovador, e que o respeito histórico, conquistado por sua tragetória brilhante e instigante, seja mantido como um estímulo para quem faz do teatro um campo de batalha, e da estética, uma estrada de diversão e saber.
É POR ESSA ESTRADA QUE CAMINHAMOS TODOS NÓS: Tchecov, Etienne, Shakespeare, Paula Lima, Pirandello, Ataulfo, Jorge Andrade, Artaud, Grotowiski, Barba, Vidigal, Genet, Ionesco, Kattah, Dias Gomes, Molière, Joaquim Ribeiro, Lorca, Oswald, Suassuna e Nelson Rodrigues. No fim desse caminho, haverá sempre uma escada que dará numa cortina azul; é além dessa cortina que fica o mar de luz que nos alimenta.
Texto de Fernando Limoeiro nos 50 anos do T.U.
Atual diretor do Teatro Universitário da UFMG e Professor de Interpretação e improvisação.